16 de dezembro de 2008


Na hora em que você enviou aquela mensagem, eu estava trancada no banheiro. Tenho medo de armários abertos em quartos escuros e tenho medo de defesa de tese. Minhas melhores amigas resolviam os últimos detalhes. Uma delas tentava instalar os equipamentos, a outra trazia mais cadeiras para a sala que se fazia cada vez mais cheia. Mais tarde eu anunciei: estas são as salas do imaginário, sempre repletas de pessoas do bem.

Quando vieram me chamar, eu não estava pronta, nunca estive. Morena ao meu lado, como sempre, uma criança e esta força. A faxineira entrou com vassoura no banheiro e me disse: estou encantada, sou maranhense. Conversando com ela, relembrei o sentido do meu trabalho: estas pessoas. Abracei-a e pedi: assiste um pouco. Mas ela não podia, a chefe do departamento de limpezas não permitia. Fiz força para lembrar o quanto tive e tenho sorte, mas toda a minha família, meus pais, meus amigos, meus professores mais queridos e aqueles que considerei mais importantes para o assunto sentados na banca não me consolavam nesta hora. Eram inclusive a razão do meu pavor. Dois dos meus principais mestres de fora da academia estavam lá, um deles de terno e gravata, muito solene. O outro de calça jeans e máquina fotográfica na mão, lindo e encantador.

Na hora que você apertou o send de sua querida mensagem, minha amiga me buscou no banheiro. Na verdade, não tive forças para fugir, que era bem a minha vontade. Dei de cara com meu orientador, me abraçou, quanta sorte no mundo uma pessoa pode ter.

Você enviou um e-mail avisando que não poderia estar. Mas se estivesse, ficaria de pé na porta, ao lado de meus primos sempre gentis e bem educados como toda família, para ceder lugar aos mais velhos. Ou sentaria em um canto no chão, como minhas amigas, para que eu ouvisse bem que respiravam emocionadas ao meu lado.

Mas subitamente, cresci como um Caboclo de Pena, daqueles bem grandes. Com a ajuda de guias e encantados, instaurou-se um clima generoso, acolhedor, confortante e bonito. Uma catarse coletiva para o bem do mundo, para o saber dos mestres populares. Uma poética do imaginário viva, pulsante e real.
Se você estivesse ali, teria ficado muito orgulhoso, como todos. Teria chegado perto para saber se estava tudo bem comigo, como fez Morena, na hora que lágrimas escorreram de meu rosto. Teria talvez distribuído lenços de papel para a banca de professores como fez a Pati. Teria tirado fotos, como fez o meu babá. Talvez tivesse até cantado, como fez Tião.

Teu parabéns chegou antes da hora. Muito mais tarde, ganhei abraços queridos, os melhores de minha vida. Tanto tempo trancada dentro de casa, achei que não teria mais amigos, que as pessoas queridas haviam de me esquecer, porque foram sucessivas ausências em casamentos, aniversários e outros eventos de menor porte. Mas ali tudo se diluiu em uma atmosfera maravilhosa. Seu Sete perguntou, alguns dias depois, se eu havia entendido o sentido do que havia acontecido ali naquela sala. E explicou: Dona Moça, houve uma diluição de fronteiras, a razão e a emoção eram uma só. A ciência objetiva e a razão sensível subjetiva estiveram unidas, fraternalmente e isso, apesar de ser uma tendência da humanidade (a dissolução de dicotomias tão bem delimitadas), na verdade exige coragem, coragem e esforço, daqueles que vão à frente, por isso todos choraram copiosamente, longamente, subitamente confortados em um espaço onde se operava esse acontecimento, com permissividade saudável.

Perguntaram ao meu amigo: “e como esteve Morena nesta hora?” Ele respondeu: “esteve maravilhosa e inteira. Ajudou a organizar, ajudou a fechar, esteve ao lado da mãe, forte, dando suporte emocional e afetivo. Morena foi e é admirável.”

E eu? Eu sou abençoada. Sou doutora curadora de boi. Professora e brincante de burra, levando índia menina pela mão, divertida.

Em você, um beijo com saudades da gente. Tudo de verdade verdadeira.

4 de dezembro de 2008

Saiu, finalmente. Tião, Pati e eu escrevemos os textos. Leandro desenhou. Morena canta e dança. Em todo canto. Viva. A vida é bonita e colorida.

3 de dezembro de 2008

Em épocas de grandes acontecimentos, muitas vezes externos a nós mesmos, vamos certificando - mulher grande - e ensinando menina pequena: os amigos de outros tempos, a família, o que construímos - é tudo o que temos de mais importante. Numa hora como essa, eu sem amigos não seria ninguém. Está vendo bem isso, Morena?

17 de novembro de 2008

Eu achava mesmo que merecia, nestes dias e afinal de contas, um presente. E os livros estavam com 50% de desconto. Literatura, pensava passeando entre as mesas. Imaginei como você gostaria de estar ali, se não estivesse viajando.

Por fim me resolvi por aquele do Dostoievski que você indicou. “Você vai adorar”, disse-me um dia, os olhos descansados, rareando. Comprei, apertei o livro contra o peito, senti uma saudade bem grande de você. Era uma sexta-feira, de uma manhã ensolarada, deve ter sido o momento exato em que você mergulhou no rio, do qual submergiu seu corpo, mas sua alma, não.

Esperava você voltar tranquilamente. Parecia que tínhamos todo tempo do mundo, nunca tivemos pressa. Como iríamos saber que você voltaria desse jeito, branco como cera, bonito como nunca, segurando enfeites yanomamis entre os braços, deitado entre flores, inexistente e inerte. Este foi meu maior choque: porque sempre estivemos tranqüilos e não tivemos pressa de nada? Agora, me despedir sem resposta, ver teu corpo baixar para a terra, tão cedo. Beijar finalmente tua família, da qual de cada um conheço um pouco a história. Eu estava com saudade e o teu mergulho no rio perdurou-a para toda minha existência.

Ontem, depois de tudo, cortei as plantas lá de casa, serviço que vc gostava de ajudar. Cortei mais do que deveria, queria que as plantas fossem infinitas para continuar cortando. Você é bobo Luigi, ir embora assim, logo agora que teríamos tempo. Aquele e-mail que você enviou antes de viajar, depositei, viajo, te ligo, conversar, saudade e eu mais boba de tudo, esperando você voltar. Inteligente, honesto e trabalhador, estava ficando tão importante. Tem presentes teus espalhados pela casa, em todos os cômodos. No fim, bebi aquela garrafa de vinho que deixou lá em casa, para celebrarmos juntos, com o abridor que me deu, inconformado. Metódico, Luigi. Nosso par de taças ficou sem sentido de existir, guardei-as no fundo do armário.

Teu trabalho vai virar livro, teu irmão perdeu o melhor amigo, os yanomamis correrão mais riscos sem você no mundo, teus pais nunca mais se recuperam e nós todos balançamos na rede da vida, um pouco mais cansados. Que você, pelo menos você, esteja em paz no universo sideral.

6 de novembro de 2008

Meninos de Rua na Rua


“Em defesa da gravidez coletiva,
pela democratização do espanto,
pela expressão criativa da razão,
pela semelhança de nossas diferenças,
pela solidariedade sensível de expressar,
pela responsabilidade social de criar”.
autor desconhecido


Lúcio Beninatti sempre morou “de favor” em um quartinho nos fundos de um barraco, na favela de Diadema. As pessoas de lá cuidavam e amavam o Frei, alegre. Julgavam, no entanto, que havia sido expulso de sua congregação, fosse ela qual fosse, porque vivia de maneira humilde, contando com a boa vontade das pessoas. Sempre de calça jeans e camiseta branca, sandálias de couro e uma cruz pendurada no pescoço, balançando no peito, o único gesto que revela sua religiosidade. No fim, acho muito divertido que fale palavrões quando a situação não anda boa para o nosso lado.

Uma das senhoras que lhe servia o jantar nos convidou a participar, muito simpática a Dona Maria, com risada solavancada. Sentamos em torno de uma mesa de toalha xadrez, na sala de sua casa, que era também a sua cozinha. Diante de um imenso prato de arroz, feijão, frango ensopado e salada, o Frei não perdeu, como nunca perde, a oportunidade de ser educativo: “Olhe Morena, D.Maria te convidou para jantar e fez este prato bem grande para você. Mas não é todo dia que ela tem almoço para os filhos, então, não desperdice a sua comida, porque é uma desfeita muito grande”. Impávida, a criança segura a colher e enfrenta o prato postado em sua frente. Estranho que não se queixe como normalmente faz: “não quero isso, não quero aquilo”. Arregala os olhos para o Frei, não ousa compartilhar de uma ação “desfeitosa”. É uma menina de nove anos, diligente. Decide por si mesma nos acompanhar no trabalho de rua, não quer ir para casa, aquela televisão chata.

Invariavelmente faz frio de noite, sempre venta na Praça da Sé e no Vale do Anhangabaú, este mundo amarelo de luz de poste, os espaços abertos, o céu distante e escuro, cachecol no pescoço. A menina está bem familiarizada com a caixa de remédios e a caixa de brinquedos, que carregamos em revezamento.
As crianças que vivem ali, diante da visão das caixas, vêm ao nosso encontro aos saltos e me lembram as crianças da escola chegando: “Oi, tia!” felicidade estampada no rosto. Bonitos, as bocas cheias de sorriso.
Sempre pergunto primeiro: “Quem está machucado e precisa de curativo?”. No entorno, uma roda se forma imediatamente. Há pequenos cortes, arranhões, feridinhas leves, machucados de criança. Com paciência, um por um, vou cuidando, limpando, passando remédio, enrolando com arte o esparadrapo. Tenho todo o tempo do mundo e quase nenhum material. Dá mais trabalho deixar tudo limpo no final. Enquanto cuido, vou dando recomendações maternais. Observando como o Frei dialoga com eles, fui aprendendo a fazer igual.
No entanto, os ferimentos especiais são aqueles não visíveis. “Cadê o machucado?”, pergunto para o pequeno que se posta à minha frente: é um menino, bate na minha cintura, agacho para olhá-lo nos olhos, bem brancos no rosto negro, longos cílios. Ele procura o machucado no corpo, rápido e agitado.
Encontra um pequeno ponto vermelho, uma cicatriz antiga, e aponta, com grandes gestos: “Está aqui!”. Aperto os olhos e não vejo machucado nenhum. Mas peço que se sente no chão da rua: “Como você se chama?” “-João”, diz. Ele tem mesmo a voz grossa de um João. “Vem, João, vou cuidar de você.” Nestes machucados inexistentes, nos demoramos mais, muito mais. Suas feridas são invisíveis, e suas dores são internas e profundas. Aprendi com o Frei e com o tempo: estes ferimentos aparecem com grande freqüência, porque junto com eles vêm os cuidados, conselhos e mertiolate, gaze e carinho. Talvez a lembrança de uma mãe distante e a memória funda de saber que também eles precisariam ser cuidados, coisa que esquecem cotidianamente, recorrentemente. O Frei sinaliza que eu aproveite o tempo para conversar, o que nem sempre é fácil. Quanto mais jovens, mais bravos e agressivos, muito porque precisam se defender com mais empenho na rua, esta casa grande, sem paredes e cheia de vento, de espaços vazios, de falsa liberdade, que os deixam vulneráveis a todos os perigos do mundo. Colocam a cabeça no meu colo somente se não tem ninguém prestando muita atenção, um momento rápido debaixo da luz do poste, enternece meu coração cansado.
Assim, ensinam de sua dignidade: João, como tantos outros, saiu de casa com 7 anos e a roupa do corpo, por conta própria e risco, optando conscienciosamente. Quem disse que há alguém no mundo que não possa ficar na rua? Porquê? Voltou para casa, mais tarde, apenas para buscar sua irmãzinha, que era menor ainda. Estufa o peito para dizer que quem cuida dela agora é ele, e que apesar de viverem nas ruas, ela não é mais constantemente maltratada. João é pequeno, mas é grande. “O machucado vai sarar”, digo para ele com segurança quando termino. Mas no fundo, não tenho tanta certeza assim.
“Às vezes, nossa fé na bondade do mundo vacila”, disse-me Tidu um dia, linda preta velha de olhos cerrados. Assim me sinto muitas vezes, olhando a vida entre os meninos nas ruas.

Com lesões mais graves, o Frei se encarrega de acompanhá-los ao hospital. E para que não sejam expulsos na porta de entrada do pronto-socorro, um adulto diz em alto e bom tom que se responsabiliza por aquela criança maltrapilha. A recepcionista, desconfiada, deixa assim que adentrem o território dos médicos. Lembro desta menina e dos seus olhos brilhando quando dissemos que iria ao médico. Quase não acreditava: “Vou ao médico?”, repetia a pergunta insistente e incansável. Quando se convenceu de que era verdade, percebeu: “Mas não posso ir assim, suja da rua”. Frei Lúcio suspirou paciente. Bem que tentou, passou em diversos estabelecimentos pedindo para usar o banheiro, mas os comerciantes, olhando uma menina de rua e um homem simples, não deixaram não. Que é dos banheiros públicos nas praças de São Paulo?
Ela, insistindo em tirar o preto do rosto. Frei Lúcio desistiu: “Vamos assim mesmo, tudo bem”. Ela retrucou: “Me espera aqui um minuto então”. Entrou no chafariz da Praça da Sé, apanhou da polícia, saiu arrastada pelos cabelos. Foi para o médico com o olho inchado e roxo, mas sem o sujo-preto no rosto, sorrindo feliz, a criança.

Nossas histórias com os meninos de rua dariam um belo livro nos dias de hoje, porque o mundo parece vê-los com olhos diferenciados e tem dificuldade de enxergar, essencialmente, o que os meninos são: crianças.
Morena, ao lado do Frei, é quem consegue dizer sem palavras que criança é criança em qualquer lugar do planeta: brinca com os meninos como se fossem colegas de escola, correndo divertida pela Praça da Sé, e já três vezes eu a levantei no ar no momento em que estava prestes a mergulhar no chafariz. Um dia, ainda pequena e de mãos dadas, em tempos em que permitiam, condescendentemente, que os meninos nadassem de fato na fonte, ela pediu, invejosa deles: a próxima vez que viermos aqui, você traz por favor meu biquíni e minha toalha?”
Hoje, anda mais resignada: observa cobri-los de noite, contar histórias, brincar, fazer curativos, gesticular no escuro da noite para os medrosos, dizendo que está tudo bem, tentando incansavelmente relembrar a todos de nossa humanidade, tão, tão esquecida nestas ruas escuras, que o Frei acredita que se pode fazer melhor a cada dia. Um trabalho sem fim, para muitas gerações. Para ela há um quê de causalidade fatalista, acha que é uma menina de sorte com uma mãe que anda a salvar meninos, ainda não entende que são eles que salvam a mãe. Costumo lacrimejar quando leio os direitos universais dos pequenos, me dói sobremaneira que se tenha tido necessidade de escrevê-los um dia. Depois, que eles efetivamente não se apliquem a todos, apesar do esforço exaustivo de muitos colegas militantes nesta área.

Quando o Frei anuncia a Estação da Luz, me despeço de Morena: lá não pode ir, vai para casa. O mundo naquelas ruas reproduz cenas de filmes B de terror e creio que criança nenhuma na face da terra devesse participar. Uma vez, arrisquei levar uma amiga com a gente e ela chorou e vomitou, inconsolável, por três dias consecutivos, lembrando das visões daquele lugar. Sempre torço os dedos e penso “não tem criança aqui, não tem criança aqui!”. Mas tem. Nas ruas escombrosas, onde os perfis se delineiam difusos, em algum canto de alguma esquina, encontramos os meninos. Já são pequenos por natureza, ali menores ainda. Os traficantes e a polícia nos deixam trabalhar sossegados, em uma relação absurdamente sustentável. Cada vez mais, no entanto, a polícia se crê superior e as coisas andam difíceis, até para o Frei, este senhor que costuma impor respeito com um relance de olhar. “Direitos Humanos”, gosto de dizer bem alto, quando resolvem mangar de seu “missionarismo”. Ali, as crianças, não querem saber de nós e avisam: não têm machucados e não querem brincar. Enquanto nos postamos em frente a eles, escondem as mãos nas costas, cheias de cachimbos: aguardam agitados a nossa saída. Um deles não agüenta, leva o cachimbo à boca, sendo duramente repreendido por um maior: “olha o respeito, olha a tia aí!”. Quando saímos, arrefeço de verdade, o menino tinha no máximo, 4 anos de idade. Enrodilho-me no braço do Frei e peço: “vamos embora, por favor, não há nada que podemos fazer aqui!” O Frei me segura, me olha firme, profético: “Filha, é no inferno que encontramos o paraíso”. De fato, alguns minutos mais tarde, um daqueles meninos pára na nossa frente e agita-se: “Tia, tio, por favor, desculpem os meus amigos, não estão em uma boa noite. A gente gosta muito que vocês venham aqui, por favor, não deixem de vir, não deixem nunca, nunca de vir aqui ver a gente”. Olho para um lado: rua escura, vultos cobertos revolvendo-se pelo chão ou vagando sem controle, atarantados. Olho para o outro: A Sala São Paulo parece, brilha mais do que de costume, as pessoas saem dos carros insulfilmados, com o pé no tapete vermelho, arrastando longos vestidos. Morena sabe que é tudo o mesmo mundo, sonhando deitada em uma cama confortável. Eu já não sei mais.

30 de outubro de 2008


O professor escreveu: "agradeço o privilégio de 'des-orientar' uma linda princesa coreana com alma gitana, brincante de boi, soror de alma..."; sem saber que enquanto nos des-orienta, des-orientamos outros também e assim indefinidamente, como um dominó cujas peças caem devagar e recursivamente: para sempre des-educadores des-orientados.
Sem dúvida há um movimento. Primeiro intenso, quase impossível de se viver neste mundo. Nada mais importa, tem-se energia apenas para as questões da tese, que são muitas. Tudo o mais passa a largo, distante como se não fosse deste mundo. A filha, os amigos, até o trabalho. É o cúmulo da produção acumulada. Noites e noites exangues, como nas festas no meio do povo, que amo. Mas agora, me debruço sobre a tela, sobre as imagens, em um sentido imaginal e de sonho: em tudo estou, mas não estou. Mas sinto-me igualmente revitalizada. Porque por mais que não tenha vivido literalmente, tenho vivido imageticamente e poeticamente.

5 de setembro de 2008

Olha que quase que não consigo ser menos que mãe que quase que coloco na capa!

28 de agosto de 2008

Querida Mamita
Eu sua querida filha e meus bichinhos de estimação Monica e Catu gostariamos de agradeser pelo acolhimento e o carinho de uma verdadeira mãe. E entroca disso a Monica ron-rona, a Catu abana o rabo e finaumente eu te encho de beijos e abrassos. Então querida Mita vamos ser gratas por toda a nossa vida. Você é a maravilhosa superior a todas as maes do mundo você não acha? De Morena hhhisc Catu uf uf uf e Monica hhisci para Soraia.

21 de agosto de 2008

Pedro Pedroca






Oi Pedroca, tudo bem? Coloquei estas fotos aqui nesta pagina para que todos os meus amigos vejam como você é lindo de verdade, para que conheçam o meu afilhado querido do meu coração e para que saibam que a dindinha tem uma amor tão, tão grande que faz ela ficar assim com saudades, olhando foto, suspirando e jogando beijo no ar.

Joguei um beijo assim para cima e fiquei esperando passar um ventinho aqui na minha janela em São Paulo que vá viajando levando o beijinho para sua janela aí em Fortaleza.

Joguei ele de manhã e acho que ele só chega de noite, perto da hora de você ir dormir. É bom, porque a hora de dormir é uma hora boa para ganhar beijo e ficar sonhando e lembrando que lá longe tem uma dindinha que te ama muito e te acha um menino muito especial e lindo de morrer.

Viva Ela


Soraia cordata e conciliatória, uma chatice. O mundo pode estar caindo, mas está tudo bem, engata em uma primeira e vai – a vida parece um baile de tapa buracos, uma dança entre a escola, o trabalho, o supermercado, a casa dos amigos, a locadora, as reuniões, a família e os eventos todos, essa ginástica sem fim, redonda e circular, meio na ponta do pé para dar conta de tudo, sem reclamar nunca, sorrindo. “Um saco”, diria uma amiga.

Mas uma vez por mês acontece o inesperado: nada está de fato muito bom, e o olhar sofre uma mudança essencial. Ele e como incidimos sobre as coisas do mundo ao redor. É onde o inesperado opera transformações, de fato, substanciais. Não contente com o caminho da escola da minha filha, agendo reunião com a Coordenadora Pedagógica. E já que estou questionando os valores institucionais da mesma, a reunião se estende à diretora também. Ainda não satisfeita, vou visitar e revisitar outros espaços, com olhar crítico, pensando que é hora para uma boa mudança na vida da criança. É quando tudo o que estava razoável me incomoda, então, reunião coletiva com os professores, para mudar os rumos da formação. Outra com a equipe de analistas, para melhorar o olhar sobre a pesquisa. Na reunião com os patrocinadores, vamos pressionar um pouco mais, neste sentido Robin Woodiano de tirar dos ricos para beneficiar os pobres. Pau na mesa - com elegância, claro. E no encontro com jornalistas, nada de ser boazinha, vamos lá, mostrar que a diminuição das desigualdades do mundo é de responsabilidade deles também. É nesta época do mês – a única onde não sou uma pata boazinha – que envio denúncias novas ao ministério público, e vou saber o que é das antigas. Fico P da vida com a Folha de São Paulo e escrevo para o Ombudsman. Choro lendo os direitos universais das crianças. Mando e-mail para o pai da minha filha dizendo que ele tem que ser mais presente na vida dela, oras bolas.

Sentada em casa na frente do computador, tamborilando os dedos, apago 34 parágrafos da tese e refaço os rumos da pesquisa, aquela parte que estava morna. No fundo, são nestas épocas que resolvo em um rompante por fim, mudar mesmo de trabalho, mandar aqueles “idiotas” que só pensam em voto às favas, e mais uns tantos que só querem mesmo saber de mkt e dinheiro. É quando enterro o passado bem enterrado, com areia fofa e perfumada. Me livro dos relacionamentos obsoletos e corro para o colo dos antigos. E nada melhor do que pendurar no telefone com uma velha amiga do peito de sempre, para análises conjuntas dos caminhos desta vida, com um bom chocolate no colo.

Nesta época do ano parem tudo que eu quero descer, refazer, repensar. Atraso os horários do mundo para sentar com minha filha na padaria, um café da manhã de melhores amigas, afinal, se ela está precisando de ajuda, estou aqui no mundo para isso mesmo: ser mãe. Também mudo todos os CDs do carro, e vou para o trabalho ouvindo um rock das antigas, pensando que no fundo, no fundo, a vida seria muito, muito chata se, mensalmente, não houvesse uma fase destas assim, de virar o mundo. Penso em fazer uma camiseta bem linda, decote V, para andar bem orgulhosa por aí, com os dizeres estampados: “EU AMO A MINHA TPM”.

15 de agosto de 2008

5 de julho de 2008

Esta imagem é de Rosa Gauditano, que cede suas fotos para a minha tese. Ela gosta dos meus textos e eu amo seus olhos. Assim, somos felizes neste casamento de chá com filosofia. Imagina as imagens que não estão saindo lá no México. Pena que não estou lá para escrever. Escrevo daqui. Não paro de trabalhar, sinônimo de me divertir, sinceramente - hoje em dia, tem dado na mesma. A única coisa que não se configura em diversão é a falta com os amigos. Amigos velhos, que estão aí na estrada faz tempo. Quem se dá ao luxo, hoje em dia, de ter velhos amigos até hoje? Eu! Esta foto é para que enfim, vejam a belezura que eu escrevo. Fala a verdade: não é o máximo? Um beijo!

25 de junho de 2008

o olho encantado de morena


Palestra - oficina para educadores brincantes uuuu
trabalhando na publicação de um livro uuuuu





Apareceu em Picin, na natureza, debaixo de água onde a gente nada, perto do cerco de peixe. Baixo seletividade alimentar... natureza, natureza.

18 de junho de 2008

16 de junho de 2008

11 de junho de 2008

Arte e a mudança de perspectiva do Barmak
qdo descobrimos que as amigas são tão, tão, tão especiais?

26 de maio de 2008

nazareth

Este é um dos nossos cantinhos preferidos no mundo, cheio de continhos e continhas.
Com muita música dentro do silêncio: o murmúrio do dia, as águas caindo em algum canto da mata, o vento soprando folhas, os bichos ao redor do sítio – vaca, cachorro, porco, cavalo, galinha. A rede range e a poeira aparece no ar, com a luz do sol.
Ali aprendemos que feijão não vem em sacas, mas em vagens fantásticas; que leite não sai de caixinha, mas da teta de vaca brava e grande; que galinhas botam ovos azuis e estes são especiais e encantados. Que a perna não vai cair de andarmos muito e que os acessórios da cidade aqui não tem valia nenhuma, ao contrário das roupas velhas e furadas. Depois de muito andar temos a visão da represa e quase ficamos sem fôlego, linda e azul celeste. Guerra de lama, saltos do alto do barranco - nadamos todos, com os cachorros e as crianças.
Lá sempre temos uma fome de leão. Até porque a comida demora a ficar pronta no ritmo do fogão à lenha - só dele – e por fim é maravilhosa, aproveitando do que é produzido no local: verduras e frutas, ovos e queijos. Catar lenha e fazer fumaça.
Lá é onde os adultos ficam horas despreocupados, sem nunca querer saber que horas são. As refeições duram uma eternidade, momento de confraternização de amigos, infinitos cafezinhos e deliciazinhas.
O tempo esfria rápido, quando o por do sol chega – e já aprendemos que sempre esfria.
O murmúrio da noite, zunidos de bichos, vaga lumes e aranhas cerzindo, latidos ao longe, mula sem cabeça, insetos desconhecidos. O escuro é o mais escuro do mundo dentro de casa e do lado de fora o céu é diferente: cheio de estrelas, muitas, infinitas. Caçamos vaga-lumes, depois que acostumamos a vista e perdemos o medo de correr na mata escura.
Lá brincamos com vela, com fogo, com fogão. Às vezes tem lampião. Em dia de festa, lanternas coloridas de papel, penduradas nas janelas. Nunca falta o violão e a cantoria sempre se faz mais alta em versos de improviso. Dançamos com nossas sombras. Dormimos em colchão de capim – exaustos e felizes.
E eu que sou do interior e queria ser da roça e faz tempo vivo na cidade, sou tão, tão, tão feliz neste canto de amigos, que acolhe minha pequena grande menina moleca desde pequena, graças a Deus e muito obrigada. Como a vida é boa em Nazareth, fala a verdade.

O dia em que fui mãe de anjo




cantando e gravando


28 de abril de 2008

Paiaçada

Foto de Adriana Mattoso, a quinta.
Um grupo festivo de mulheres-meninas.

Que dançam no chão liso de cimento queimado, enchem de música e vapores a varanda que dá para o mar inteiro e para a mata – comidinhas naturais e temperadas.
A pia está assim em permanente movimento e rotatividade: sashimi de peixe fresco todos os dias enquanto circulam entre nós taças de vinhos vermelho-trasnparentes de excelente sabor.
Tem alongamento de manhã, que uma mulher não é nada sem alongar até o último fio de cabelo e se o faz é mais feliz.
Faz-se tudo junto nestes dias, com a hospitalidade e a coragem da Dona da Casa – entendi que seu corpo canta a vivência caiçara e que ela, generosa, compartilha com a criança e com as amigas.
De modo que há de se nadar mil metros, descer ribanceira escorregando-segurando só para ter a visão desta praia selvagem, mata e mar, brava. As cachorras nos circundam, correm entre nossas pernas e a menina a todos imita saltitante. Ela também corre um kilômetro na praia sem descanso, pula de pedra alta em mar fundo transparente porque para trás ela não fica, vaidosa.
De noite, estalo nas línguas, leves e felizes, gargalhantes borbulhantes, os livros, as fotos, as danças. Os jogos de mulher, criança dorme e o mar se faz escutar permanentemente no escuro da noite. Tudo lindo e suspiro.

Coreira chama outra


Coreira prá dançar

Creio ser o momento simbólico do giro da saia o dar-se conta da efemeridade do tempo. Como diante de uma grande montanha a de nossa insignificância súbita. O giro é o tempo que venta que passa que se renova e não volta. Pulo e agarro a saia da menina no ar, pensando assim parar este vento que a faz crescer todo dia. O vento da janela me faz correr para casa para vê-la crescer, me faz cultivar finais de semana mirabolantes e cheios de magia e aventura de quintal, me faz refletir sobre a nossa existência que em um giro faz tudo mudar. Venta o bolo de chocolate esfriando na janela e num piscar, venta a nossa dança na sala. A vida de uma mulher sem saia vale muito pouco. Com ela, avançamos mais no espaço ao redor do nosso eixo central. Vento bom para lá e para cá, em todo lugar.
Guarnece, guarnece, agora eu quero ver... Foto do Estebe.


9 de abril de 2008


Dançar sem a saia não deve ter graça nenhuma.
Temos dançado - trabalhado insistentemente na produção de um CD, todo de autoria do Grupo Cupuaçu. Como a Pati está hospedada lá em casa, acompanho o passo-a-passo das gravações - liiiiindas.
Não vejo a hora de ver o produto final. Minha modesta contribuição será em texto (obviamente), também com pitacos na faixa interativa final. Leandro desenha, Morena dança, Pati grava, grava, grava e eu batucando no teclado do computador esta paixão eterna. O vento da saia e o perfume lançado no ar. No meu mundo melhor todos dançam e cantam.

4 de abril de 2008






Fantástica Fantástica Fantástica
Fábrica de Chocolate



Bom, viajamos de carro, dormimos em república, curtimos a UNICAMP, a rádio univesitária, o mirante, acarajé com cerveja, sono na mesa, café da manhã na cama. Que bom é viver e ter família linda, unida e cheirosa. Fomos buscar um pedaço de papel que merecia carinho com as mãos. Essa roupa e essa beca, esse momento de finalização, de virar adulto já sendo, uau, uau!

11 de março de 2008