Já é tradição faz tempo, novembro tem festa de Janaína. Todo
ano tem. No final do ano, no final do semestre, antes da loucura do natal, na
reta final, quando quase em esgotamento todos, já sabemos: iremos nos
encontrar, uns aos outros. Ela sempre
avisa que é só para os melhores, melhores, melhores amigos. Não nos vemos faz
tempo, saudades, mas ainda estou nessa lista. E que lista! Meu Deus, eu só
tenho 4 ou 5 melhores amigos, mas a Jana?
“Incrível”, todo ano eu penso. E já se passaram 20.
Este ano era um marco. Mas lá, no momento do marco, todos
que estiveram no marco anterior, 10 anos atrás, tiveram uns acessos de riso,
porque o último ainda está bem vivo e vivido na memória póstuma dos acontecimentos
que são suas festas. Em casas, apartamentos e bares. O local pouco importa.
Marco é marco, um ponto de sinalização na nossa estrada (na
dela e na nossa, aprendo no final). E que estrada! Toca organizar viagem,
porque é festa da “melhor amiga”. Descemos a serra, confiantes no mistério que
sempre se apresenta em festa: nunca sabemos o que vai acontecer. Mas sendo de
Jana, a história atesta diferentes emoções garantidas ao longo dos tempos.
Temos sempre que lidar com o fato de surgirem novas pessoas,
os novos melhores amigos. De modo que o primeiro encontro foi com alguém que eu
nunca tinha visto, mas já me sinto ligada por esse elo irremediável que são
suas amizades. O primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto eu também não conhecia.
Pô, Jan.
Por fim os de sempre: os amigos de faculdade mais velhos que
eu, os amigos de faculdade mais novos que eu, os amigos que nem sei de onde é
que são, mas ah, que alegria, - são meus amigos porque em algum período da vida
convivemos também. Janaína é generosa, faz de seus amigos uns amigos dos outros.
As minhas melhores
amigas estão lá, garantindo um lugar confortável, familiar. A família toda como
sempre, que nos demonstra a posteriori porque a Janaína é a Janaína. Inclusive
a irmã, que sempre comemora o aniversário dela também. Os sobrinhos, acho que
um estava a pulso, fazer o quê, aniversário das tias... As crianças que nos
chocam, porque crescem em uma velocidade vertiginosa, todas essas que vimos
pequenas, que vimos crescer. A linda
mãezinha. O pai pela ausência-presença. Os que não puderam ir de jeito nenhum.
Os que viajaram mais do que todo mundo, vindos de longe, cumprindo uma via
sacra para comemorar com a melhor amiga e nos presenteando com sua presença
alegre, saudades sempre. Os que provavelmente não viriam e apareceram de última
hora, para contentamento geral. Os que venceram pelo menos 2 obstáculos
insuperáveis de vida e chegaram.
Uma “comunidade Janaína” que quando vê, trabalha articulada
como se nos encontrássemos todos os finais de semana. Coisa incrível aquela
mesa de preparação do bolo, não sei se Janaína viu. Dona Inês, coordenando a
produção em série daquela delícia, com todos os mais jovens do acontecimento. Uma direção amorosa com experiência acumulada
de avó. Pode provar um pouquinho, colocar o dedo, todo mundo empenhado e
guloso. Participante, ainda pego ela dando conselho para o casamento dar certo,
para a maternidade ser mais leve e aquela eterna gratidão por nós gostarmos de sua
filha. É sempre tão emocionante, mas penso eu que nós é deveríamos agradecer a
ela por existir essa amiga.
Tinha a varanda da
preparação das flores para a mesa, gerida amorosamente por uma sua amiga
queridíssima. As pessoas com dor no coração poderiam mexer nas flores, porque
assim tudo sarava.
Uma outra se empenhava com farinhas na cozinha, com firmeza
e dedicação, que delícia de cuscuz! Ainda outra tirava fotos, clicando nervosa
e coordenando geral, como se a festa fosse dela, querendo que tudo ficasse
perfeito. Trazendo atrás de si uns docinhos que além de lindos, eram ótimos.
Mais duas enfeitavam com cores a pousada, e era tão, tão
lindo que logo atraíram as crianças todas para a atividade. Balões na água,
saquinhos coloridos brilhantes nas árvores. Um primor, aprovou você, a dona da
festa.
O mural de fotos, um cenário à parte, que orgulho de estar
nele, várias vezes. É quase que como flutuar no tempo, que passa-mas-não-passa
para nós, guiados pela tua mão alegre, cativante, esse jeito seu de fazer cada
um se sentir mais especial que outro.
O nosso tradicional DJ passou “a bola” para o filho. Aliás,
que festa de gerações essa sua festa,Janaína!
Os donos da pousada são seus melhores amigos também? Devem
ser, porque era imensa a disponibilidade em dividir o espaço, uma generosidade
sem fim, uma alegria contagiante, em tudo participantes, olhos e filhos sorridentes.
Aliás, o que era aquele bebê?
Em tudo você pensou, como sempre. Com essa estranha força de
transformar o “seu” em nosso. A todos envolveu. Que dom que você tem!
Ainda de presente, a
praia, a jacuzi, a piscina, todos com sol ou com lua cheia, a depender do ânimo
e da vontade.
Assim que a vida de repente em um flash, fluida como as velas
flutuantes na piscina, vira filme de cinema. Somos nós protagonistas.
Em um drama de vida apresentado. Separações, novos
encontros. Casais antigos lindos e firmes, casais novos, esperança. O sofrimento que emagrece ou engorda. De
namorado novo, de casamento novo. Com bebê no colo, planejando gravidez. Em
crise no trabalho, em crise na vida amorosa, em crise na vida inteira. Fazendo
terapia, dando notícia de sobrinho. “Perdendo a razão, querendo ser feliz”. Renascendo,
reinventado, compartilhando. Que bom minha filha mais velha se sentir parte desta
comunidade improvável, com excelentes e maravilhosas referências de vida, que
dão sentido à nossa existência tantas vezes cansada. Que bom apresentar a minha
mais nova pirulita, feliz e saltitante, no meio de todos, cuidada por todos.
Por fim, que orgulho de tudo isso, que orgulho da sua e da
nossa história, de ser sua amiga, de tantos amigos. Tamborilo os dedos na
direção, linda paisagem, a volta. Teve gente que pegou muito trânsito, mas
ninguém reclamou. Muito ao contrário. A volta veio recheada de estranhas
sensações. O que foi isso mesmo? Circulamos e voltamos para o mesmo ponto:
novembro, festa de Janaína. Não, não nos sentimos mais velhos. Nos sentimos
mais bem-vividos. Mais do que aproveitar a festa, sentir essa brisa que circula
através dos anos, que chega mesmo em novembro, no finalzinho dele, quando
estamos todos quase que esgotados. Quanta sorte temos no nosso encontro!
E para consolo geral, não tem desengano: ano que vem, de
novo.