9 de dezembro de 2009

O caderninho fica rodando na bolsa, coitado, velho e sujo antes do tempo. É um caderno infinito como os outros, cheio de medos e receios. Estes medos impossíveis, todos e tantos, complexos e sem ordem cronológica, totalmente ilógicos. De vez em quando me lembro muito, muito dela e daquela mania que ela tinha de fazer talhos simétricos na pele. Penso no meu pai e tenho vontade de fazer um talho grande e comprido no braço direito, do começo do ombro até embaixo, no pulso. Um veio por onde a dor poderia sair em um filete vermelho. Ela quando sofria fazia esses cortes pequenos, simétricos, sempre escondidos. Eu sempre descobria. No calcanhar, onde cobre a meia. Debaixo da alça da camiseta regata. No cós da calça, bem na cintura. Pequenos, discretos, organizando algum caos interno. Eu tinha vontade de bater cabeça na parede então, bem forte. Tanto desdobramento, não adiantava nada.

Tem uma nuvem de garoa. Crianças, para dentro. Vamos fazer uma cabana gigante.

Fico cansada porque minha preocupação atinge níveis elevados de consciência. Sei que não há como protege-los da dor e ainda assim me pego criando estratégias para tal. Falta de gestão do tempo, isso é o que é.

A outra trabalha duro construindo casas, cantos, coisas.

O clima aqui anda bem feio, não pára de chover e demitem as pessoas aos montes. Quem sabe no ano que vem você não volta? Quem sabe eu é que não vou? Há algumas confraternizações e algumas pendências, no geral gostaria de ficar quieta na sombra, invisível, descansando. Estou tão envolvida com os dois pólos afetivos atuais que o resto atrapalha minha vista. Uma dose de frustração e outra de impotência, duas de amor, duas de alegria dividida em dois. Recebi uns VDs na internet, abri um, detestei, me senti ofendida. Porque? Talvez porque eu esteja na escola. Talvez porque eu não seja mesmo esse todo coerente que pretendia ser um dia. Já desisti dessa empreitada.

Nessa história não tem mãe.

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